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Abelardo Jurema Filho
Infelizmente, porém, o clima político no Brasil vem alcançando patamares inacreditáveis. O ódio e a intolerância grassam de tal forma nas redes sociais que velhos amigos se transformam em inimigos ferrenhos. Simplesmente decidem não mais aceitar, nem respeitar, que as pessoas pensem diferente do seu modo de agir e de pensar, abominando qualquer conduta que não lhes pareça adequada, dividindo a condição humana em duas vertentes: o lado bom e cristão, entre os que concordam com ele, e o lado nefasto e anticristão, aos que divergem do pragmatismo de suas opiniões.
Esta semana recebi uma mensagem, via WhatsApp, repassada por uma velha amiga, que me causou grande surpresa e desapontamento. Infectada pelo vírus da intransigência e do extremismo, ela disparou a metralhadora giratória:
- Meu amigo ou futuro ex-amigo, não me importo se você é rico ou pobre, de esquerda ou de direita, gay ou hétero, preto ou branco, flamenguista ou corintiano, mas se você aplaude quem tirou da cadeia o líder da quadrilha do maior assalto da história desse país e a derrota do voto impresso auditável, o que pode trazê-lo de volta, lamento mas eu não posso ser seu amigo.
Nunca pensei que uma amizade valesse tão pouco e fosse interrompida por motivos que, absolutamente, não me dizem respeito. Nada tive com a liberdade conferida a quem seria “o líder de uma grande quadrilha de assaltantes”, e muito menos influí na rejeição ao “voto impresso auditável”, embora, pessoalmente, o considerasse uma manobra para desconstruir a democracia, duramente conquistada, colocando em dúvida a legitimidade do processo eleitoral praticado no Brasil há 26 anos.
E as palavras referendadas pela minha doce amiga vão mais longe, em implacáveis considerações:
-” Não se trata de ideologia. É uma discussão sobre caráter, moral e ética. E se você está ao lado de bandidos, brigando por eles e relativizando crimes, não estou perdendo um amigo, estou me distanciando de um inimigo”.
Já soube que cópias dessa mensagem estão sendo reenviadas a muitos endereços, fazendo novas vítimas, destruindo relacionamentos e boas amizades. Enquanto o País padece de tantos problemas sociais e econômicos; quando famílias de esfomeados vagam pelas ruas em busca de comida; quando a pandemia continua fazendo vítimas; o meio ambiente em estado de alerta; e a violência ameaçando a relação entre os Poderes, desestabilizando a ordem constitucional, existam pessoas que estejam por aí, espalhando conteúdos desagregadores, ameaçadores, desconhecendo amigos e insuflando a violência, como se essa atitude viesse a contribuir com a paz social que todos almejamos.